segunda-feira, janeiro 24, 2011

Um pouco verdes

Pronto: as pessoas nascem poetas! Dom ou sina, a depender do momento, mas é caminho sem volta. Um jeito especial de olhar o mundo, umas perguntas que mais ninguém faria, e eis um ser em estado de poesia.
No cedo da manhã, Larissa olhava comigo a maré baixa.
- Onde estão seus filhos, agora?
Pensei um pouco. "Estão com as namoradas".
- Qual é a cor dos olhos das namoradas deles?
"Azuis, eu penso. Ou verdes..."
- Os meus olhos são negros.
Os olhos de Larissa eram onix maciços, escondidos por pestanas longas, cortinas contra a maresia.
- E os seus, de que cor são?
Olhando para ela: "marrons, eu acho". Ela considerou em silêncio durante um tempo, então concluiu, mais para si mesma do que para mim:
- Mas são um pouco verdes, também.
Confundia o mar da quarta praia com os meus olhos, a pequena Larissa, 8 anos, negra, nativa da ilha, que nascera poeta.


(Texto e imagem: Cecilia Cassal - Morro de São Paulo - Bahia - Brasil)

7 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Gente e Mar...

Que bom quando os olhos do mar se misturam aos nossos olhos. Seja qual for a cor dos olhos, o mar é sempre azul, verde...lindo, e, na mistura, o que se vê é poesia.

A conclusão de Larissa é perfeita. "Meus olhos são um pouco verdes, também". Isso é lindo.

Anônimo disse...

Poeta, dom, sina...não sei, sei apenas que aqui os olhos e as palavras tecem sensibilidades como o mar. (as águas estão azuis, hoje.) profundo, CeciLia, profundo. meu abraço carinhoso.

Anônimo disse...

Puro lirismo,Ceci!
Poetas são, sim, seres especiais...
Beijos,
Un moro judio

Mara faturi disse...

Hummmmmmmmm!!!! linda pessoa,

seus olhos marulham nossa alma e desaguam em poesia;))
SAUDADEEEEEEEEEEEE!!!!
BJO GRANDE!

mulher de sardas disse...

durante quantos anos procurei em vão o verde dos olhos da minha mãe nos reflexos dos meus olhos marrons! Larissa é que tem razão. O verde está no mar.

Amei muito, Cecília!

Beijos.

Rubens da Cunha disse...

desses encontros sempre nascem poemas...
é o que move o mundo :)

Dalva M. Ferreira disse...

Que poema!